quarta-feira, 25 de março de 2009

QUAL SUA OPINIÃO?

20/03/2009 | N° 10378

COTIDIANO | CIRO FABRES

O PROFESSOR ESSENCIAL

Que relação essencial, mas dramática, essa entre professor e aluno, que passa por nada recomendável turbulência, simbolizada esta semana por fitas adesivas em bocas infantis. Turbulência como nunca se viu, aliás, e é preciso oferecer tranquilidade a esse momento sagrado do aprendizado, tranquilidade por ora completamente inviabilizada, tamanha é a carga que a sociedade deposita sobre esses professores, estupidamente mal-remunerados. E relação dramática de trágicos resultados, diga-se obrigatoriamente, estão aí o desenvolvimento emperrado do país, as famílias no geral desestruturadas, o tráfico e a violência nas ruas para mencionar apenas quatro das funestas consequências.

Claro que nada justifica partir para a adesivação oral como método para impor autoridade. E é certo que as queixas da mãe estão cobertas de razão, ainda que fosse a criança adesivada o capeta em pessoa, o que não é o caso. Embora a própria mãe reconheça, com a benevolência que só as mães sabem ter, tratar-se de um menino “agitado, falante e esperto”. Fita adesiva na boca, definitivamente não.

Ocorre, no entanto, que é, sim, de se imaginar, por oportuno exercício de realismo, o grau de tensão e estresse a que está submetida uma professora dessas, que chega ao ponto de lançar mão da fita adesiva, naturalmente sem lhe dar razão. Os governos e as escolas particulares ou conveniadas remuneram muito mal, e as famílias, genericamente falando, entregam seus filhos, de corpo e alma, aos professores, muitas até lhes transferem verbalmente a tarefa completa de educá-los.Também é de se ressaltar, para não incorrer no equívoco do heroísmo fácil, que há muitos maus professores por aí, que não se dedicam à causa da educação com devoção e profissionalismo. Mas esses maus professores não apagam o professor de verdade, o professor essencial, que acaba levando o mundo nas costas, o mau salário, a tarefa de educar o filho alheio e de ainda aguentar as traquinagens de dezenas de pequenos capetinhas a lhe atazanar a vida, o que é o mais comum.

Os governos e a sociedade não dão nenhum apoio aos professores e esperam milagres. O professor essencial, que consegue se controlar para não adesivar bocas infantis e muitas outras juvenis, esse está em apuros, e pede socorro. Mas insistimos em não dar-lhe ouvidos.

JORNAL PIONEIRO

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